terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Felisa Perez - Comentário às conclusões apresentadas das mesas redondas sobre Ética

Resumo mesas Ética|Equipas 10h

Rosário Azevedo (ICCOM-CECA) tomou a palavra e trouxe-nos as reflexões lançadas nos dois de debate das mesas-redondas sobre Ética. Começou por afirmar que não chegaram propriamente a conclusões, mas a pontos de referência importantes que demonstram que há muito trabalho por fazer e pouca bibliografia sobre a questão. A pergunta de saída foi a tentativa de encontrar sinónimos para os termos de “mediação e ”mediador”, onde a ética está implícita. Falou-se em “facilitadores”, termo redutor, pela dualidade inerente entre fácil/difícil. E se o professor será também um “mediador”? E o mediador será “intermediário” ou “catalisador”? Chegou-se então à conclusão que a dificuldade de encontrar sinónimos para o termo está associada à ambiguidade do papel do mediador, onde cabem uma série de competências e valências, definidas por cada um de nós. Espaço reflexivo e mutante, onde a ética está em permanente construção.
Mais tarde, falou-se da “isenção”. Será que o mediador deve ser isento? Consegue? Não consegue? Entre todos, alguém disse que ele está no meio do processo, logo, tem que tomar uma posição e assumir a posição que toma. Tem que direccionar, orientar, mas o processo fica em aberto, desenvolve-se na horizontal. Outra questão debatida foi o carácter dialéctico da mediação, relacionada à impossibilidade de isenção a que o mediador está sujeito. O processo vai então viver desta dialéctica, onde o mediador vai direccionar, orientar, sem isenção. Neste contexto, a conversa chegou a dois conceitos importantes, trazidos pelos oradores dos dias anteriores: o mediador como “fazedor de circunstâncias” (Fernando Hernández) e o mediador como “construtor de pontes” (John Falk).
Tomou então palavra Elisa Marques (GAM) para nos falar sobre Equipas e a primeira conclusão apresentada foi que o tema teria de ser tratado em relação com os outros dois E’s: Ética e Erro, porque não há equipa sem ética, ética sem erro e equipas que não errem. Percebeu-se também que não há equipa sem projecto e tratou-se o projecto como uma construção, uma imprevisibilidade, excentricidade, intencionalidade e um desafio (nunca um somatório de actividades). Então, se há projecto, venha a equipa. O que é equipa? Um conjunto de pessoas, portadoras de vários saberes (multidisciplinar), que trabalham para o mesmo fim. Considerando uma equipa de mediadores e os factores que interferem na mediação (intrapessoais, instrumentais e simbólicos) lançou-se a questão: Para que serve a mediação? Para levar as pessoas a pensarem outros mundos, alargar conhecimentos e ampliar visões sobre si próprios. O que é essencial para uma equipa saudável? Motivação. O que só é possível, – segundo as conclusões das mesas – com normas, autonomia das pessoas que a constituem, vontade de aprender, capacidade de aceitar o erro, escutar e com prazer no que se faz. Abordou-se em seguida a questão da liderança. Deve a equipa ter um líder? Sim. Uma liderança eficaz. E como pode ser o líder? Autoritário, laissez-faire/laissez-passez ou democrático? Depende do contexto. Deve atender aos propósitos que a equipa tem, ser capaz de motivá-la, coordenar, organizar, desenvolver, planear e avaliar.
A mesa lançou então a pergunta de partida deste encontro: “Em nome das artes ou em nome dos públicos?” Concluindo que uma equipa trabalha em nome da educação em geral, sem pontes, porque não há margens.
Para terminar, Elisa Marques deixou-nos uma frase de Agostinho da Silva:
“Só uma actividade complexa conseguia ser na realidade criadora”.
Colocando-se “em nome dos públicos”, Fátima Alves (GAM), depois de uma breve apresentação sobre a actividade do grupo que integra, o Grupo para a Acessibilidade nos Museus (GAM), lançou a reflexão sobre o que estamos a fazer para os públicos com necessidades especiais? Pensamos neles? E parece que nas mesas alguém terá partilhado uma experiência onde, apesar do museu ter criado actividades direccionadas para aqueles públicos, elas não tinham resposta. Porquê? Porque não houve a ponte, a relação, não se foi ter com eles – refere Fátima Alves que defende ainda que é preciso ir para o terreno, procurar essas pessoas e proporcionar-lhes experiências que motivem o seu (re)encontro com o museu.
Paula Figueiredo (Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa) partilhou, então, uma dificuldade muito pertinente sentida no seu trabalho, a ausência, por vezes, de uma equipa preparada para trabalhar com esses públicos. O debate saiu da mesa e o público partilhou as suas experiências. Sem dúvida que, nesta matéria, há todo um caminho a percorrer. E partilho convosco, neste relato, um programa de referência nesta matéria, o projecto da Pinacoteca de São Paulo (Brasil) que, além de ter uma exposição sensorial permanente (2º Piso) para portadores de deficiências visuais acompanhado por percurso áudio (iPod), conta, entre a sua equipa, com colaboradores também eles portadores de deficiências auditivas (e outras) que fazem a “mediação” desses grupos.
Retomando a questão das equipas e dos professores como mediadores, Joana Andrade (que desenvolve um programa artístico na UNESCO) lançou duas reflexões: o papel das curadorias nos museus e a questão de muitas vezes os professores, quando acompanham um grupo, ficarem à margem da visita. Até que ponto os curadores são envolvidos nas equipas dos Serviços Educativos, onde, segundo a Joana, ainda existe uma grande barreira de comunicação; e como motivar os professores a não acompanharem meramente um grupo. O ICCOM refere que estão a ser desenvolvidos vários projectos nesse sentido e pede a uma representante do Museu Abade Baçal para partilhar o seu projecto.
Robinson (Brasil) traz a sua opinião para o debate, considerando que todo o mediador é educador e que só faz sentido a escola ir ao museu quando integrada num programa/projecto de longa duração. Para Robinson, o mediador não é um guia que vai transmitir informações, vai assumir um papel de formação e gerar conhecimento.
Na linha do comentário da Joana, sobre o diálogo com as curadorias, partilho uma experiência desenvolvida pelo Núcleo Experimental de Educação e Arte do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (NEEA-MAM RJ). No MAM, antes da inauguração de qualquer exposição, o curador debate com o educativo o sentido das obras e o(s) artista(s) estabelecem diálogos com os educadores  para, em conjunto, criarem possíveis leituras da exposição.
Fica o desafio.
Por Felisa Perez

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